RIO
ACIMA, SEM MOTOR
O Conselho Internacional de
Monumentos e Sítios, legitimando o seu valor excecional universal, deu
(indispensável) parecer favorável à classificação da Universidade de Coimbra,
Alta e Sofia como Património Mundial. Enquanto aguardamos, já em junho, a
decisão da UNESCO, talvez fosse importante concretizar uma ideia de Carlos
Fortuna que aponta para se instalar, nas tardes de sábado, no próximo mês,
exatamente naquela que foi, num tempo, a rua mais larga da Europa – naturalmente
fechada ao trânsito –, uma exposição do projeto, fundamental para a cidade e
para a região – como bem reconhecia Fernando Ruas, em Viseu –, por forma a que
a população e quem nos visita melhor entendam, por fim, o porquê, os propósitos
e o alcance da candidatura.
Entretanto, a propósito da
Universidade, preocupante, absolutamente preocupante a exclusão de Portugal,
por parte do governo brasileiro, do programa de bolsas no estrangeiro para
estudantes, também (e sobretudo para nós) aqueles, tantos, que escolhiam
Coimbra para prosseguirem estudos. Vamos ver a força dos ministérios da
Educação e dos Negócios Estrangeiros, ainda a capacidade do Grupo Coimbra de
universidades do país "irmão".
A serenata na Sé Velha, também
pela sua dimensão, continua a ser, do meu ponto de vista, manifestação
impressionante, essencialmente pelo muito que significa quando lembramos a
recuperação das tradições académicas. Que tiveram, agora, de novo, momentos
altos com a realização da Queima das Fitas, festa dos estudantes que a cidade
vive, ainda e sempre, como património seu. E sobre a qual a imprensa dita
nacional ou não fala – do mal o menos –, ou continua a sublinhar, quase
exclusivamente, um desaforo, o número de estudantes ébrios transportados (e não
se pode, atendida a não urgência das situações, proibir o uso das sirenes nas
ambulâncias?) aos hospitais.
Fui, um dia destes, à Lápis de
Memórias participar no lançamento do livro "Ser Cristão? Porquê, Para
quê", de José Veiga Torres, bela edição desde logo para ver e manusear, uma
obra de leitura necessariamente exigente e demorada. Contrariando o sentido
habitual, aquela livraria independente tornou à baixa, para, deixando a Solum,
se instalar na Fernão de Magalhães, e aí exercer a excelente atividade que a
individualiza. Mas este regresso ao, chamemos-lhe assim, centro da cidade,
jamais me fará esquecer – obrigado Adelino Castro –, o derradeiro e delicioso
encontro com Manuel António Pina, antigo camarada das lides jornalísticas, que
mantive, ali, na Elísio de Moura.
Voltei às margens do Mondego,
agora para ver, ambiente e espetáculo magníficos, as regatas da Queima das
Fitas, as maiores de sempre, com as suas mais de quinhentas tripulações. Que
desperdício – não naquele dia, evidentemente – dos benefícios com que a
natureza (e o trabalho do homem) dotou Coimbra…
Leio, a propósito da degradação
do património nacional, que a Região das Beiras é a mais carenciada em termos
de recuperação. E é quase infinda (perdoe-se o algum exagero) a lista de
monumentos, designadamente em Coimbra, a necessitarem de regeneração urgente.
Quadro que me deixa muito apreensivo, sobretudo quando Celeste Amaro, diretora
regional de Cultura do Centro, afirma, sem rebuço, que, afinal já amanhã,
"mais uma dúzia de anos sem reabilitação adequada e o património
cai". Valha-nos Deus!
Curiosíssima – e, também, a
acreditar nas expressões, muito divertida – a Color Run que levou às margens do
rio, excelente, mais de treze mil participantes; o colégio de São Teotónio está
a celebrar, parabéns, o seu 50º aniversário; os CTT, que entretanto
desmentiram, preparam-se (as informações que não a mas o Cidade tem!) para
deixar abertas em Coimbra, seria a demência absoluta, apenas três estações de
correio; e está aí, até ao fim do mês, em Santo António dos Olivais (tenho de
lá ir um dia destes comer uma primeira sardinha assada), a romaria do Espírito
Santo.
António Cabral de Oliveira