segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A 20 de outubro ACO escreveu ...


RIO ACIMA, SEM MOTOR
A saída da Universidade de Coimbra do prestigiado ranking “Times Higher Education”, – que, lembre-se, já liderou em termos nacionais – pode ser, é seguramente, um sério aviso para a eventual quebra de importância da antiga instituição. Tal como acontece com o ocidente, que naquela classificação perde crescentemente influência em favor do mundo oriental, urge, também localmente, conseguirmos reagir, com determinação, empenhamento e, em especial, muito trabalho, ao declínio anunciado, à (pelo menos) aparente derrota num combate em que, nas suas responsabilidades históricas, Coimbra tem de ser, em absoluto, liderante. Na certeza, sempre, como muito bem disse a presidente da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, de que “formar-se não pode ser fácil, nem rápido”, nem, tão pouco, ter-se assegurada – como, com graça, sustentava antigo professor de economia – a “nota mínima garantida”.

A imagem, fortíssima e muito impressiva, de um grupo de estudantes da AAC de malas aviadas – liderado pelo seu presidente, caminhando sozinho, à frente da Academia – ficou a marcar, indelevelmente, o cortejo da latada que, sem rasgo nem graça de maior (salvo a piada dos bilhetes de avião, para destino incerto, em voo só de ida, na “Austeridade Airlines”), antes cheio de vulgaridades, repetiu, na prática, usos e costumes desta mini queima das fitas em que transformaram uma jornada estudantil que se queria de irreverente exigência. É uma pena, permito-me avaliar, os alunos não saberem aproveitar, ou aproveitarem tão mal, um tempo que será, com certeza, um dos melhores das suas vidas. Mas, enfim, se ao menos dizem que se divertem, que se divirtam, pois, e sejam muito felizes assim…

A instalação de Gabinetes de Apoio ao Empreendedor em cada uma das dez autarquias da Comunidade Intermunicipal do Baixo Mondego é iniciativa louvável, para a qual esperamos haja financiamento (comunitário, pois claro) e, sobretudo, empresários. Algo que, sem descer a dislates de outros, diria serem coisa rara … ou muito fraquinha. Mas isso sou eu a falar, eu que me confesso incapaz de vender um parafuso com lucro, quanto mais produzi-lo com vantagem económica e social. Mas que também não me digo empresário!

Falando em caminhos de ferro, e para além de uma referência elogiosa às novas e mais amiudadas paragens e à baixa de preço dos bilhetes que a CP introduziu na Linha da Beira Alta (nem tudo na majestática companhia pode ser mau), os comboios Sud Expresso e Lusitânia Expresso, respetivamente para França e para Madrid, passaram a ser feitos em conjunto a partir de Coimbra. Isto, claro, enquanto não retiram à cidade, também ao nível ferroviário, a posição de charneira entre o norte e o sul a que, julgamos, deveria obrigar a geografia, a orografia, sobretudo a inteligência humana.

A PSP tem novo comandante, o intendente Francisco Pedro Teles, que, honrado por funções “numa das cidades mais prestigiadas do país” – haja quem, vindo de fora, ainda o reconheça – promete, não pouco, muito trabalho em favor da comunidade. E poderá começar, coisa apenas aparentemente menor, por mandar alterar os locais, irritantemente sempre as mesmas rotundas, onde a Secção de Trânsito, quase fazendo já parte da paisagem urbana, posiciona as suas patrulhas.

O American Institute of Graphic Arts, que visa reconhecer a excelência no design, acaba de distinguir o atelier Ferrand, Bicker & Associados, de Coimbra, com a inclusão de três conjuntos de capas de livros na lista das melhores do mundo. As capas são realmente belíssimas – somos, de facto, capazes do melhor – e a atribuição dos prémios, (a par das boas classificações que os nossos estabelecimentos de ensino secundário obtiveram no respectivo ranking, com particular destaque, pela terceira vez consecutiva, para a Infanta Dona Maria, classificada como a melhor escola pública nacional) ufana, justamente, a cidade. Enquanto contribui para elevar, como bem precisamos, a nossa auto estima.

Numa época em que, também em Coimbra, corre riquíssimo o movimento editorial, António Carlos de Azeredo apresentou, há dias, um excelente roteiro da cidade do conhecimento e da sua região, com um texto escorreito (também em diferentes idiomas) mas, sobretudo, com belíssimas fotografias. Uma mais valia, sem dúvida, e não só para o turismo.
António Cabral de Oliveira

A 13 de outubro ACO escreveu ...


RIO ACIMA, SEM MOTOR
As campas do cemitério de Souselas – será premonição ou simples acaso? – apareceram, de novo, cobertas de um pó esbranquiçado proveniente de descarga poluente da cimenteira. Talvez seja um outro aviso para não esquecermos (bem pelo contrário, lembrarmos sempre) a luta perdida contra a única grande aposta “estruturante” governamental para a região de Coimbra: lixo tóxico em vez de equipamentos de desenvolvimento económico e progresso social. E, também, para recordamos aqueles que, ao arrepio do bem-estar colectivo, privilegiaram, então, conveniências pessoais, e têm, ainda, a desfaçatez de se passearem, publicamente, mesmo em cerimónias oficiais, por aí…

Numa cidade em que quase não há opinião publicada em que valha muito a pena atentar, reconfortou-me ler a oposição exigente, frontal e corajosa de Norberto Canha, revoltadíssimo, e bem, contra o fecho, por parte do Bispo da Diocese, do Seminário Maior de Coimbra. Cortando a direito, como a tanto obriga a verticalidade do respeitável Professor – coisas de diferentes eras, parece –, zurziu forte já que D. Virgílio Antunes, de facto (e para além das hierarquias), sem delegação do povo diocesano, não deveria, nunca, encerrar uma instituição com quase 250 anos de História, mesmo que com tal se procurasse beneficiar outra entidade, com certeza respeitável, a Universidade Católica, que, recorde-se, nunca quis instalar qualquer polo na universitária Coimbra.

Está completo o Conselho Consultivo do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, órgão que integra, reconheça-se, uma maioria de nomes de insuspeitado prestígio. Que se espera possam contribuir, com os seus diversos saberes, para uma melhor ação das diversas unidades do imenso CHUC. Influenciando, positivamente, a decisão, como naturalmente se espera, mas não interferindo, de facto, na sua gestão, que, em exclusivo, deve ser garantida internamente.

Quando a Presidente da Agência Nacional para a Gestão do Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida (valha ao menos a certeza de que tamanho não falta ao título da senhora!) desafiou Coimbra a tornar-se, a par de Lisboa e do Porto, numa Cidade Erasmus, estava, não duvidamos, a querer mostrar-se simpática para connosco. Mas se Coimbra não é já espaço marcante no panorama dos programas internacionais de mobilidade de estudantes, que outra cidade o será? O que não inviabiliza, contudo, antes exige, renovados e permanentes empenhamentos para se ir mais além, sobretudo quando são cada vez menos os alunos nacionais que acedem à universidade.

Organizado por não interessa que raiz partidária, decorreu, em Coimbra, um debate sobre a cidade. Fica a referência, naturalmente elogiosa, na certeza da importância de todos nós analisarmos, interventivamente, o futuro colectivo da antiga urbe. Mas, Helena Freitas, aquela ideia de fazer substituir uma horrível estação de autocarros por um horripilante e inimaginável parque de estacionamento num dos mais nobres (e graças a Deus, apenas precariamente aproveitado) espaço, foi mesmo sugerida?!

Em iniciativa absolutamente saborosa – aqui na verdadeira acepção da palavra -, decorreu, com grande dignidade, este ano ao longo de três dias, a Mostra de Doçaria Conventual e Regional de Coimbra, dando, de novo, na esteira aliás da melhor tradição da força militar sediada no antigo Convento de Sant’Ana, também bom uso civil às instalações da Brigada de Intervenção; concretizando desiderato antigo, o Jazz ao Centro apresentou o seu novo espaço de programação cultural, o Salão Brazil, em plena baixa da cidade, em prova de inequívoca vitalidade apenas contrariada pela suspensão da revista Jazz.pt que, lamentavelmente, mais por colectiva culpa nossa do que sua, não conseguiu sustentar; e a Assembleia Municipal de Coimbra deliberou, convenientemente, e por unanimidade, - mas será que, para além das conjunturas políticas, vamos desperdiçar a oportunidade (por muito que se discorde do conteúdo da proposta), para se redimensionarem autarquias insustentáveis como o são, no miolo histórico, a Sé Nova, Almedina e S. Bartolomeu? – não se pronunciar quanto à pretensão governamental de redução do número de freguesias.
António Cabral de Oliveira

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A 6 de outubro ACO escreveu ...


RIO ACIMA, SEM MOTOR
Continuo sem entender porque é que todas as raras obras que considero terem dimensão ajustada a uma Coimbra de futuro são sempre classificadas por alguns – não poucos, infelizmente – como “elefantes brancos”. Serei eu “grande de Espanha”, ou será, antes, (a Casa da Cultura/Biblioteca Municipal, apenas um exemplo, não é hoje equipamento já insuficiente?) falta de ambição por parte daqueles?

Vem isto a propósito da adaptação do Convento de São Francisco a espaço cultural e de convenções, uma obra formidável (não me ocorre adjetivo mais eloquente), ali na margem esquerda, cuja compra, não se reescreva a história, se deve, personalizando os executivos, a Mendes Silva e não a António Moreira, apesar de ter sido este quem, de facto, a pagou. Ao abrir novos e (com certeza) ditosos horizontes à vida cultural e económica da região, São Francisco é, sem questão, uma excelente aposta da Câmara Municipal, que há de saber organizar de forma exigente e capaz a sua gestão e dinamização. E que os cidadãos de Coimbra têm a obrigação de saber bem usufruir, seja enquanto espaço de utilização social, seja em simples visita…

Por falar em cultura, Coimbra, para além da sua ampla oferta habitual, foi palco de um vasto conjunto de atividades que, em manifestação, justa, contra os cortes nos apoios governamentais, serviram para reivindicar auxílios indispensáveis para se evitar a asfixia. Se, por um lado, importa acompanhar os agentes culturais da cidade nesta sua luta, há, por outro, que assumir, sejamos utópicos, que a cultura tem de caminhar, cada vez mais, para uma autonomia financeira. Com o contributo insubstituível da efetiva participação nos eventos dos muitos que continuam a dizer que em Coimbra não acontece nada … mas que, em boa verdade, não encontramos em qualquer programa cultural.

Quando o próprio comandante se enleva por, li, se sentir “a ganhar, aos poucos, a confiança dos seus agentes”, parece que algo continua mal na Polícia Municipal de Coimbra, uma estrutura, não o esqueçamos em circunstância alguma, que só existe para servir a população. Naturalmente hierarquizada, é, por o ser - e por bem se saber a diferença entre mando e comando -, que não percebo, de todo, estas, chamemos-lhe assim, confidências …

A Associação Nacional de Municípios Portugueses, entidade tão cara à cidade onde está sediada, vive um momento histórico de lamentável e preocupante turbulência política. Consequência direta da crise financeira que se abate sobre o país, também porque é terrível a aproximação do ocaso depois de longos ciclos de liderança no poder autárquico, urge ultrapassar rapidamente tais dificuldades, sempre em favor de uma casa fundamental para a existência de um poder local digno e autónomo, indispensável ao bem-estar e ao progresso dos cidadãos.

Morreu Santana Maia – as minhas homenagens sentidas -, médico prestigiado que a sua classe profissional quis Bastonário, cidadão ilustre que, também enquanto Vice-Presidente da Câmara, Presidente da Assembleia Municipal e Governador Civil de Coimbra, dignificou, em tempos outros, uma outra forma de estar na política. Por igual docente da Faculdade de Direito, Joaquim Sousa Ribeiro sucede, no elevado cargo de Presidente do Tribunal Constitucional, a Rui Moura Ramos, também daquela Escola, eleição que, honrando Coimbra, haverá de reiterar anteriores padrões de excelência. Para concluir, também na promoção turística no estrangeiro o Centro desapareceu do mapa, com as Beiras, bem como todo o restante espaço físico nacional, a serem substituídos, que mais poderia ser, por … Lisboa e Porto. Mas que regionalização turística é afinal esta que, agora, dizem, se estará a concretizar?!
António Cabral de Oliveira
6 de outubro de 2012
 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A 29 de setembro ACO escreveu ...


RIO ACIMA, SEM MOTOR
O Secretário de Estado das Obras Públicas afirmou, em sede do Conselho Regional do Centro, que a autoestrada Coimbra-Viseu é prioridade maior nos projetos do Governo quanto a futuros investimentos rodoviários. Face ao abandono a que se votou a Região Centro, era só o que faltava que o não fosse. A não ser que – e em boa verdade, no meio de tamanho centralismo, já nada me surpreenderia –, depois da construção de tantas AE em redor de Lisboa (e do Porto), ali se começassem amanhã a erguer, também à míngua de território disponível, não vias paralelas … mas sobrepostas!

Na inauguração da Exposição da Candidatura da Universidade de Coimbra a Património da Humanidade, o Magnífico Reitor decidiu descer das suas tecnologias e subir às humanidades para sublinhar – de entre o pouco que, disse, teve já tempo de ler – a influência da Universidade de Coimbra na história de países como o Japão e o Brasil, também a certeza da língua portuguesa ter nascido nas Escolas coimbrãs. O que constitui, para nós, redobrada esperança no seu empenhamento na continuada internacionalização da UC; na sua permanente valorização histórica e patrimonial; ainda, e porventura especialmente, no ganhar de um aliado relevante no combate que urge empreender para que o Museu da Língua Portuguesa tenha, naturalmente, sede em Coimbra (quem sabe se nas então já desativadas atuais instalações da Penitenciária), e não, como entretanto alguns políticos ignaros aprovaram, em Lisboa.

Tornar ainda mais mágica esta em si já mágica cidade, foi o propósito, amplamente alcançado, dos Encontros de Magia, que voltaram a decorrer em Coimbra. Um projeto que, contudo, terá de ir mais além, sem se quedar apenas neste festival – inquestionavelmente importante --, para mostrar atividades também ao longo de todo o ano. Especialmente quando vamos ter novos e excelentes espaços no vasto equipamento cultural que é o Convento de S. Francisco…

Falando de farmácias e de farmacêuticos, agora em período de luto que respeito até pela muita consideração que me merecem tantos desses profissionais que, ao longo dos anos, me habituei a ver serem solidários – e discretamente solidários – com aqueles que, por dificuldades económicas, não podiam aviar as suas receitas quando delas precisavam, uma palavra para a inauguração, em Coimbra, na sede da Secção Regional da Ordem dos Farmacêuticos, do Centro de Documentação Nacional, estrutura com certeza significativa em cidade que, por ser a do conhecimento, deve albergar em si espólios de estudo, nas mais diversas áreas, que sirvam todo o país. E, de facto, como bem reconheceu o Bastonário, “não poderia haver local mais indicado”…

Em favor da baixa e de Coimbra, decorreu, com a entrada do outono, mais uma Noite Branca, iniciativa muito curiosa de que, comprovadamente, os cidadãos gostam. E isso é o que realmente importa, mesmo quando demasiados comerciantes continuam alheados da jornada, perdendo assim oportunidade para, participando na festa, fazerem algum negócio e, talvez sobretudo, mostrarem que há alternativa aos centros comerciais. Afinal, e ao contrário do que se lastimam, mais parece, talvez ainda habituados a tempos áureos e mais fáceis, que continuam apegados a uma baixa que era, especialmente, terreno privilegiado para exibirem vaidades. Que São Pancrácio -- protetor dos comerciantes -- lhes valha…

Na CCDRC, os cortes financeiros estratégicos querem-se concomitantes com estratégicas propostas dos cidadãos para o desenvolvimento regional (que falte o pão, mas não a opinião); a Latada foi antecipada para, nem mais, não interferir com os estudos, o que nos leva a reiterar já antigas propostas, nunca atendidas, de se alterar, para o final das aulas, com o mesmo e justíssimo fim, a data da Queima das Fitas; e, enquanto se encerram estabelecimentos hospitalares psiquiátricos (de louco, todos temos um pouco), parte do Sobral Cid servirá, sempre a mesma imaginação, para um outro … museuzinho!
António Cabral de Oliveira
29 de setembro de 2012